SÍNDROME ASIA
SÍNDROME ASIA E DOENÇA DO SILICONE: VOCÊ JÁ OUVIU FALAR?
Em primeiro lugar, precisamos entender como o corpo funciona, para então entender porque essas doenças acontecem.
Todos nós temos um fator chamado AUTOIMUNIDADE! Ela serve para nos proteger e para isso é capaz de reconhecer o que faz parte de nós (como os hormônios, células…), reconhecer o que não faz parte de nós (NÃO-SELF: bactérias, vírus…) e ter a habilidade de reconhecer quando algo nosso sofre modificações (como os tumores por exemplo).
O que ocorre é que para a maioria das pessoas a autoimunidade é mantida sob controle. Quando por alguma razão ela se torna hiper-reativa, temos então as DOENÇAS AUTO IMUNES! Para isso deve haver a genética presente associada a fatores ambientais, nem sempre conhecidos. Há diversas doenças auto imunes conhecidas como LUPUS, VITILIGO, ARTRITE e, a mais recente e polêmica, SÍNDROME ASIA.
ASIA (Autoimmune/Auto-inflammatory Syndrome Induced by Adjuvants) é uma condição na qual o organismo é exposto a uma substância estranha ao corpo desencadeando um gatilho e, então, o corpo começa a “atacar” ele mesmo. Desses fatores estranhos temos vacina, prótese ortopédica, dispositivo de contracepção ou PRÓTESES DE SILICONE. Foi descrita por Shoelfield, em 2011.
O diagnóstico dessa síndrome extremamente difícil, pois não há exames que confirmem a doença e os sinais e sintomas são muito comuns a diversas outras situações de saúde, pois são inespecíficos. A mulher começa a ter um quadro de enxaqueca, queda de cabelo, infecções de repetição… mas não correlaciona com as próteses mamárias. E inicia uma busca com especialistas de diversas áreas, exames e mais exames, e nada é achado para fechar o diagnóstico de alguma doença conhecida. Com isso, a média de tempo para diagnóstico é de 10 anos.
Além disso, por ser uma doença relativamente recente e rara, 0,8%, muitos médicos não conhecem esse mecanismo e acabam por não fazer essa hipótese diagnóstica.
A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) refere que pesquisas científicas não relataram relação entre implantes mamários e doenças auto-imunes ou sistêmicas.
Existem mulheres que tem condição de risco para ASIA, devendo-se ter um cuidado maior ao discutir procedimentos com implantes. Quem são elas? As com deficiência de vitamina D, relato de auto imunidade prévia ou de histórico na família para tal, histórico de alergias.
O que fazer se a suspeita for de ASIA? A conduta mais coerente seria a retirada das próteses. No entanto, há algumas barreiras nesse caminho:
– o cirurgião que procurei acredita na doença? Porque se não acreditar vai encaminhar para psicólogos e psiquiatras e o adjuvante manterá o quadro de hiperreação,
– como fazer essa retirada? Será realizado explante em bloco?
– como me preparar para aceitar meu corpo após esse procedimento? Minhas mamas ficarão bonitas? Haverá possibilidade de reconstruir no mesmo tempo cirúrgico?
Como sabemos, auto imunidade não tem cura! Mas enquanto o gatilho não for eliminado, bem provável que não melhore o quadro. Sabemos que de 60 a 80 % das mulheres que realizam o explante tem os sintomas minimizados ou eliminados.
Acredito na doença e a decisão de explante, assim como a colocação de próteses deve ser discutida caso a caso.
Mulheres que tem próteses mamárias e são assintomáticas não precisam entrar em pânico. O ideal é procurar o cirurgião plástico para discutir o seu caso. Não é necessário ter auto imunidade prévia para desenvolver ASIA, mas deve haver genética presente.
Em relação ao tipo de próteses, sabemos que quanto mais textura o implante apresenta, mais reação inflamatória ele produz, mas há casos de ASIA para todo tipo de próteses (lisas, microtexturizadas, poliuretano).
Shoenfeld sugeriu critérios para o diagnóstico de ASIA:
Critérios maiores:
- Exposição a um estímulo externo (infecção, vacina, silicone, adjuvante) antes das manifestações clínicas.
- Aparecimento de uma das manifestações clínicas abaixo:
– Mialgia, miosite ou fraqueza muscular;
– Artralgia e/ou artrite;
– Fadiga crônica, sono não repousante ou distúrbios do sono;
– Manifestações neurológicas (especialmente associadas com desmielinização);
– Alteração cognitiva, perda de memória;
– Febre, boca seca. - A remoção do agente iniciador induz melhora.
- Biópsia típica dos órgãos envolvidos.
Critérios menores:
- Aparecimento de autoanticorpos dirigidos contra o adjuvante suspeito.
- Outras manifestações clínicas (ex.: síndrome do cólon irritável).
- HLA específicos (ex.: HLA DRB1, HLA DQB1).
- Surgimento de uma doença autoimune (ex.: esclerose múltipla, esclerose sistêmica).
Para o diagnóstico de ASIA: pelo menos a presença de dois critérios maiores ou um critério maior e dois menores.
MAS AFINAL, O QUE É A DOENÇA DO SILICONE? É A MESMA COISA QUE ASIA?
Apesar de não serem oficiais alguns dados sobre próteses, há relatos do que chamam de gel bleeding (sangramento do gel), no qual o silicone sai da capa da prótese e migra pelo corpo, causando toxicidade e dano aos tecidos. Para isso não há autoimunidade envolvida, simplesmente a própria alteração de tecidos onde essas partículas de silicone se depositam causariam alterações e mutações, inclusive formação de tumores.
Em 2019, a ANVISA suspendeu venda de algumas próteses devido a essa informação, mas como não houve comprovação científica que provasse que o linfoma era causado pela prótese, acabou por autorizar novamente a comercialização. Segundo o FDA (food and drugs administration), agência responsável nos EUA, esse tipo de linfoma seria um câncer do sistema imunológico e a orientação deles não é retirar os implantes do mercado. Mas sim ter uma rotina de monitoramento com check ups frequentes, pela porcentagem ser baixa de incidência e por ser uma doença curável.
Resumindo, os implantes mamários ainda são bastante utilizados na prática médica e tem algumas indicações sim. Mas devemos sempre alertar as pacientes para os possíveis efeitos adversos do uso das próteses a curto e longo prazo, da necessidade de monitoramento constante e tempo de troca das mesmas.